21 novembro 2013

O Monstro - Abu Fobiya


Quando uma noite eu lia um domo interdito, escrito em sangue sujo em idiomas ancestrais.
Ouvi o bater na porta seguido de um grito, que atirou minh’alma em foças abissais.
E eu indaguei: - Quem és? Porque me perturbais?

E dos versos do corvo de Alan Poe, fiz manuais para estes que testemunhais.

A criatura adentrou e me olhou, consumiu por completo minha paz.
E eu clamei: - Piedade anjos celestiais...

Vi o monstro desforme cuja feiura congela, como se rascunhada por deus em traços banais.
Juntos compunham uma abominável tela, pincelada pelo diabo com sangue e aguarrás.
e a criatura disse: - Ouve meu rapaz...


Desde pequeno o mundo eu rondo, numa busca vã por meus iguais.
Meus crime e castigo mais hediondo, foi nascer com feições chacais.
e ele disse: - Não sou do diabo o capataz...

Ao me ver recém nascido minha mãe caiu dura, Meu pai desconfiado observou os sinais.
Furioso logo lhe deu uma bela surra, ao concluir casos extra conjugais.
e ele chorou: - Em nada eu lembrava meus pais.

Fuji de casa encontrei abrigo, junto a dois colegas fraternais.
Mas logo os três corremos perigo, dois disparos foram fatais.
E ele orou: - Que descansem em paz...

Ao longe estava o atirador, as balas voavam zás - trás.
Fiz-me de morto em meio ao horror, banhado em sangue de chacinas tais.
E o caçador cuspiu: - Aqui o maldito jaz...

Ao anoitecer vi uma casa decadente, habitada uma velha incapaz.
Adentrei o curral sorrateiramente, e deitei-me junto aos animais.
A velha ouviu: - Aus, uis, e ais, pois nem cão, nem cabra suportava minha feição 

Pelos deuses escarrado, sou banido dos seus portais.
Filho do demônio ou assombração, viver é minha maldição.
As coisas belas encontram em mim seus funerais.
E ele disse: - Nunca fiz nada de mais...

Por onde passo causo espanto, contudo não quero olhar pra trás.
Se me deixares ficar em qualquer canto, serei de teus escravos mais leais.
E eu Gritei: - JAMAIS...

Pelo Deus que ambos tememos, te expulso de meus umbrais.
Vai destilar tuas discórdias e teus venenos, em tuas profundezas infernais.
E ele disse: - Arrepender-te um dia vais...

Abismado vi partir aquela fera, que olhou para trás e disse as palavras finais.
E então compreendi o que a besta era, monstro ou assombração são coisas irreais.
E ele disse: - sou um pato e nada mais.

Retirado do Livro "Branca dos Mortos e os Sete Zumbis E outros Contos Macabros - Fábio Yabu"

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